sexta-feira, 26 de abril de 2013

Cultura em crise: maior grupo de teatro de Alta Floresta desocupa Centro Cultural

Realmente o clima entre os integrantes da cultura altaflorestense e a secretária de cultura do município, Arisne Campos, parece ter “azedado” de vez.



Prestes a comemorar 25 anos de história, o Teatro Experimental realizou ontem a retirada de todos os seus equipamentos que serviam à toda a comunidade no Centro Cultural.

Segundo uma publicação nas redes sociais, o motivo seria o tratamento dado pela pasta para a categoria. “A falta de respeito da Secretaria de Cultura e Juventude com os artistas locais que nos leva a tomar esta triste decisão!”, diz um trecho da publicação, que traz em anexo fotos da retirada dos materiais.

Foram retirados todos os equipamentos do teatro, entre eles cadeiras, equipamento de luz, panaria e outros acessórios utilizados para apresentações no Centro Cultural. O presidente do grupo teatral, Gean Nunes Araújo,enviou nota a imprensa esclarecendo os motivos da atitude, confira abaixo:

ABAIXO A MALEDICÊNCIA!

Houve um tempo no Brasil que artistas e grupos eram privados de sua própria arte. O "braço forte" do poder com baionetas em punho tentaram calar muitos artistas. Todos conhecem as sequelas de tantas e tantas tentativas contra os artistas e contra a democracia. Não conseguiram calar nem a arte e nem os artistas. Isso porque para calar a arte e os artistas, é preciso calar a humanidade. Isso mesmo! Calar a humanidade. Além das baionetas, também usam o recurso da desmoralização, ou seja, a maledicência. A maledicência é o ato de levantar suspeita ou suspeição com o fim de espalhar dúvidas sobre sua trajetória.

Alguns poucos maledicentes e desumanos não tardarão em bradar aos quatro cantos que artistas são arrogantes e pretensiosos. Vão desencavar conceitos e preconceitos antiquados que já foram superados há séculos não com blá-blá- blá, mas com suor, lágrimas e sangue. Nenhuma conquista foi obra do acaso ou ordem grafada em uma pedra lascada qualquer, num passado distante. Os artistas, como todo o povo não ficam muito tempo silenciosos diante das baionetas e das maledicências.

Depois de breve contextualização, dizemos que o presente momento em Alta Floresta se mostra como uma aberração, ou seja, uma possível volta àquele tempo de perseguição. A palavra aberração é forte, mas vasculhando termos que poderiam expressar o que acontece no setor cultural de nossa querida cidade esta palavra parece ser a mais apropriada. É inacreditável imaginar os últimos episódios ocorridos no meio artístico e cultural de Alta Floresta. Perguntamos indignadamente - como é possível um gestor de cultura não estabelecer diálogo com seu público-alvo imediato: os artistas e produtores culturais? Logo na cultura onde estão os protagonistas de tantas e tantas lutas pelo direito de falar, de expressar e da pluralidade.

É bizarro que uma instituição reconhecida como utilidade pública em nível municipal e estadual, como é o caso do Teatro Experimental de Alta Floresta seja atacada irresponsavelmente por quem se julga "dono do poder" com claras intenções de desacreditar a trajetória de 25 anos que o grupo construiu sob o testemunho e o apoio de uma cidade. O grifo é para (re)lembrar que o Grupo incorporou o nome da cidade no seu e isso é motivo de orgulho para todos nós. Somos DE Alta Floresta e queremos continuar sendo. Tentar propagar inverdades sobre os meios utilizados pelo grupo para construir o atual patrimônio e o legado já visível na história de nossa cidade é o Teatro Experimental de Alta Floresta, mesmo que dizer que o povo da cidade é cego e incapaz em ver o errado, a maledicência e a ignorância. Todos sabem e acompanham a nossa luta diária. Quantas e quantas vezes batemos em portas de empresários para pedir patrocínios. Quantas e quantas vezes trabalhamos sábados, domingos e feriados para elaborar projetos e inscrevê-los em editais públicos, privando nossas famílias de nossas companhias, inclusive em dias festivos como dias das mães, pais etc. Quantos e quantos projetos não foram aprovados pelo MinC, pelo Governo do Estado, por Bancos, por empresas? Nós sabemos! Nós sabemos também que todo o dinheiro recebido via projetos foram aplicados naquilo que fora proposto com a devida prestação de contas aprovada pelos órgãos patrocinadores. Além da transparência, temos o princípio do debate público, ao contrário de alguns poucos que agem à surdina, chamando pessoas individualmente para "conversar" de forma maledicente. Muitas vezes, para garantir um bom Festival de Teatro, por exemplo, trabalhamos voluntariamente.

Ultrapassa todo e qualquer limite possível do inteligível que uma pessoa que assuma a gestão cultural num município desconheça a escassez de recursos para a área cultura. Mais esdrúxulo é algum "pseudo" gestor cultural (só pode ser "pseudo" pra cometer tal heresia) venha a acreditar que há recursos sobrando ao ponto permitir bandalheiras. Oras, isto seria "miopia intelectual" ou apenas a maledicência para se manter no "poder"? O que explica isso? A explicação mais plausível parece ser mesmo a má-fé, a maledicência. Só alguém maledicente (para não dizer coisa pior) é capaz de ignorar uma história de 25 anos de muito trabalho. Nos bastidores de qualquer obra de arte há MUITO TRABALHO e muita DOAÇÃO DE SÍ. Há suor, há alma, há emoção, há solidão, há sofrimento e toda infinidade de sentimentos e emoções. Um gestor de cultura tem por obrigação saber disso e respeitar todo e qualquer artista. "Quem não gosta de cultura, bom sujeito não é".

Nós do TEAF não compactuamos com a cultura do atrito, somos artistas e queremos lidar com coisas que atingem o ser humano numa outra dimensão que não a da ira. E, diante disso, decidimos, coletivamente, pela retirada de todos os equipamentos do Teatro Experimental de Alta Floresta que estão nas dependências do Centro Cultural e evitarmos outras indisposições para o Governo Municipal e para o próprio TEAF. Não queremos, como já dissemos, protagonizar atos negativos para a cidade que carregamos, com orgulho, em nosso próprio nome. Portanto, retiraremos os materiais nesta quinta-feira (25 de abril de 2013) no decorrer do dia e no período da noite (horário em que os membros do grupo têm disponibilidade, visto que todos tem outros trabalhos) e para a ocasião solicitamos que uma pessoa da Administração acompanhasse a retirada.

Reafirmamos nosso espanto e incredulidade diante das absurdas aberrações contra artistas e produtores culturais em Alta Floresta/MT. O oposto do que se espera de quem está na função pública na área da cultura tem acontecido. Esperamos uma postura contundente daqueles que são responsáveis pelos rumos de nossa cidade e que no ano em que o TEAF comemora 25 anos o presente não seja a permanência da truculência, da coação e pressões aos moldes nos idos tempos da ditadura. O povo de Alta Floresta não precisa de truculência. Nosso povo precisa é de valorização de suas riquezas. O que temos de mais rico é nossa gente! E gente não se dissocia de cultura. Portanto, valorize nossa cultura, nossa gente, nossa memória! (nota enviada pelo Teatro Experimental).

Por Clay Jr.

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