quinta-feira, 16 de maio de 2013

Democracia: para refletir! - Amar virou um ato de coragem


Se serviu para demonstrar que em muitos aspectos e em certos escaninhos a sociedade brasileira ainda pratica conceitos e ações dignos da idade média, o atual debate sobre a homofobia, tendo figuras inquisitoriais como os felicianos, malafaias e bolsonaros que muitos insistem em manter em evidência, ao menos permitiu que se fizesse um pouco de luz no sentido oposto ao propagado por estes cidadãos.

Cidadãos que, aliás, não honram esta condição, posto que rejeitam o conceito básico de cidadania segundo o qual a vida privada, se não fere a lei, diz respeito unicamente ao indivíduo.

A fobia pública destes personagens permanece gerando reação que felizmente indica alguma evolução neste setor. Figuras públicas resolveram assumir e propalar sua orientação sexual homo, outras tantas que merecem a atenção da mídia, embora "comportadas" dentro dos padrões aceitos pelos preconceituosos, passaram a apoiar publicamente esta que, graças aos homofóbicos, tende a se tornar uma causa mais e mais apoiada.

Com a ajudinha sempre providencial das mídias sociais, claro.

Aliás, nestas mídias - Facebook e Twitter à frente - surgiu um movimento que deixa evidente que revelar o amor, em pleno século 21, é considerado um ato de coragem. Tem-se tratado aqueles que simplesmente dizem em alto e bom som que amam (uma pessoa do mesmo sexo, que seja!) como se fossem heróis.

Ok, a sociedade brasileira está muito mais próxima da Grã-Bretanha de Oscar Wilde, perseguido e aniquilado por conta de seu comportamento pessoal em nome o "amor que não ousa dizer seu nome" do que dos EUA em que o presidente fala de "nossos irmãos gays".

Mas avança-se.

Infelizmente este debate dá sobrevalor a políticos que se por isso não fosse estariam recolhidos à mais adequada insignificância.

Que seja.

Há que se esclarecer, tolerar, respeitar, superando-se as bobagens do tipo "ditadura gay" e passando todos a levar a vida que lhes convier.

O problema é que muita gente ainda tem medo, repetindo Wilde outra uma vez, de versos como:

"E ambos, nessa atração de semelhantes,
Num cingir de músculos, os amantes
Ergueram-se aos portais da transcendência."

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos "Cotidiano", "Ilustrada" e "Dinheiro", entre outras funções. Escreve aos sábados no site da Folha.

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